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O discurso na mediação em Artes Visuais

Rachel de Sousa Vianna

Tradicionalmente, a linguagem verbal tem sido vista com desconfiança por artistas e professores de Artes Visuais. A lista de acusações é extensa: a análise verbal paralisa a intuição e a criatividade; a conversa sobre arte é totalmente idiossincrática e, portanto, inútil; o vocabulário é pobre e insuficiente para descrever a experiência estética; palavras distraem e atrapalham a percepção da arte. Relativizando ou contrariando cada um desses argumentos, autores como Rudolph Arnheim (1974), David Perkins (1977), Elliot Eisner e Stephen Dobbs (1988)1 afirmam que o diálogo constitui um instrumento fundamental na nossa percepção e no nosso entendimento da arte.

Parte das suspeitas em relação à linguagem verbal deve-se a um entendimento equivocado dos sistemas simbólicos. Palavras não podem descrever ou explicar uma obra de arte em toda a sua riqueza e complexidade, mas isso é verdade também para outros campos do conhecimento. Ninguém espera que um físico descreva o universo em detalhes ou que um médico discorra sobre as minúcias de um quadro clínico. Uma experiência sempre envolve mais do que é possível colocar em palavras. Isso, porém, não diminui a importância da linguagem verbal. Na ciência, o discurso verbal é usado para formular modelos conceituais que refletem a essência de dado fenômeno. Na arte, exerce uma espécie de função indicativa, capaz de guiar nossos sentidos para reconhecer coisas que não foram apreendidas antes.

Em que pesem os argumentos a favor, pesquisas de campo indicam que o potencial do discurso verbal para ampliar a experiência da arte ou não foi reconhecido ou não foi bem explorado. Em um estudo realizado no ano de 1987, em 27 museus de arte dos Estados Unidos, Eisner e Dobbs (1988) constataram que a maioria das instituições oferecia informações mínimas sobre as obras e que os textos disponíveis, com frequência, usavam linguagem técnica e jargões, os quais dificultavam o entendimento dos não iniciados no campo da arte. ( Continua…)

O texto acima é um trecho do capítulo escrito pela autora para o livro: Artes visuais e educação: ensino e formação. Organizado por Luciana Mourão Arslan e Roberta Maira Melo ( Uberlândia, MG: EDUFU, 2017, p. 103-125).  O livro completo está disponível em:

http://www.edufu.ufu.br/catalogo/ebooks-gratuitos/artes-visuais-e-educacao-ensino-e-formacao

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