REVISTA SILLOGÉS
Chamada para artigos
Este Dossiê está situado na intersecção entre as pessoas, as ideias e suas criações, fazendo emergir diferentes modos de ser, estar, pensar e perceber o mundo, a vida, o patrimônio, a educação e os afetos. Queremos que ele seja, também, uma oportunidade para representar a educação patrimonial como processos de interpretação das coisas que criamos e atribuímos valor durante nossa existência, instigando as seguintes reflexões: O que foi eleito como bens culturais de excepcional valor nos representa hoje? Que referências queremos destacar no espaço público? De quais passados exigimos reparação? Como cartografar os passados presentes? Inventariar, de forma participativa, os modos de fazer, celebrar, saber e ser poderá vislumbrar diferentes cosmopercepções?
O contexto recente exige respostas do campo do patrimônio cultural tanto em repensar as narrativas construídas e legitimadas por um grupo minoritário, quanto se abrir para um questionamento crítico e profundo sobre as identidades reconhecidas e aceitas pelos sujeitos históricos ao longo do tempo e do espaço. Ao nos deparar com esses questionamentos, acaba sendo pautado o debate acerca dos significados que podem ser adicionados e reconhecidos a partir da inserção da experiência e do cotidiano da vida das pessoas. Assim, definir e ampliar as categorias dos bens patrimoniais é reconhecer a impressão da ação diária, habitual e frequente de humanizar os significantes ligados ao conceito de patrimônio cultural.
Dessa forma, os lugares, as paisagens, os conjuntos, as manifestações passam sob o olhar de serem espaços não só de legados de alguns grupos, mas de reinvenções e de reparações históricas em torno do direito à memória do presente, do reconhecimento da diversidade e do questionamento dos processos de esquecimentos e silenciamentos. Logo, pensar cidade, patrimônio e educação na contemporaneidade é aspirar pela construção da urbe pelo sujeito, para o sujeito e com o sujeito; é ressignificá-la pelos seus antigos e novos usos; é reconhecer as mudanças, mas ao mesmo tempo ficar atento às permanências. Compreende também garantir e assumir a existência diária de novas interpretações em torno do patrimônio cultural, inclusive na necessidade de se pensar diferentes desenhos metodológicos, como as cartografias afetivas, os inventários e outras ferramentas participativas.
Neste Dossiê, é significativo também a apropriação da palavra cosmopercepção, na perspectiva da socióloga feminista nigeriana Oyèrónkẹ Oyěwùmí (2002), como uma forma mais inclusiva de conceber o mundo por diferentes sujeitos e grupos culturais. Assim, a cosmopercepção nos estimula a decolonizar nossos sentidos, fissurando a supremacia da visão que nos induz a olhar o patrimônio a partir dos critérios de arte, história e beleza euro-ocidentalizados ou somente aqueles representativos de uma parte da sociedade brasileira, geralmente política e economicamente hegemônica.
Portanto, a partir das perguntas-chave descritas e de diferentes cosmopercepções, o Dossiê pretende apresentar reflexões acerca de como os processos educativos voltados para o patrimônio cultural podem ser construídos de forma dialógica e coletiva, concebendo que ensinar não se limita e nem se esgota em transferir conhecimento (FREIRE, 1996). Nessa esteira, ao ser apropriado socialmente, as cosmopercepções em torno do patrimônio cultural requerem processos educativos que se baseiam na “ecologia dos saberes” (SANTOS, 2009), que reconhecem a pluralidade de conhecimentos heterogêneos e a escuta qualificada dos diferentes sujeitos que vivem e dão significados ao patrimônio cultural.
Entre os interesses do dossiê estão:
- Pesquisas e/ou projetos de educação patrimonial voltados para a educação formal ou com comunidades, grupos sociais diversos, instituições culturais e museus, que tenham como perspectiva a reflexão crítica e dialógica na apropriação e preservação das referências culturais.
- Experiências de identificação das referências culturais de grupos subalternizados nas narrativas locais ou nacional, por meio de diferentes estratégias educativas, desenvolvidas presencialmente ou em meio virtual.
- Reflexões teóricas sobre o campo da educação patrimonial, suas apropriações, bases conceituais e epistemológicas.
O Dossiê também aceitará propostas de Produções Visuais (ensaios fotográficos, produtos visuais, fotomontagens, intervenções digitais, etc), que tenham como finalidade refletir ou demonstrar processos educativos voltados para o patrimônio cultural, problematizando o trabalho com as memórias coletivas e suas apropriações, bem como formas de democratização e decolonização dos bens culturais, das cidades e do campo.
O prazo final para o dossiê é 15 de Maio de 2022.
Maiores informações no link: https://acervosrs.blogspot.com/2021/11/chamada-para-artigos-educacao.html
Contamos com a participação de todos!